Há ingredientes que não se contentam em estar em um só lugar.

O urucum é um desses.

Ele nasce tímido, em cápsulas vermelhas que parecem pequenos ouriços abertos ao sol. Mas basta o toque nos dedos para deixar a marca de sua cor intensa, como se dissesse: vim para ficar.

Na cozinha mineira, o urucum está na base de tantos refogados quanto as histórias que passam pelas panelas. É ele quem dá cor ao arroz, ao frango com quiabo, ao feijão tropeiro.

Uma pitada basta para transformar o banal em especial, como um segredo herdado de avós que temperavam com mãos cheias de vida.

Na pele, o urucum revela outro lado: bronzeia, protege, traz um brilho dourado que lembra o entardecer no quintal.

Nos cosméticos naturais, ele é extrato, é óleo, é maquiagem.

A mesma cor que colore a comida, colore também o corpo — só que agora como gesto de cuidado, como ritual de beleza. O que encanta é justamente essa travessia. O urucum não se divide entre ser tempero ou cosmético: ele é os dois, sem esforço.

É natureza que se espalha, que se deixa usar e reinventar. Talvez seja por isso que ele dá nome à nossa casa. Porque o urucum não é só ingrediente.

É símbolo.

É memória que alimenta e, ao mesmo tempo, enfeita.

É a lembrança de que corpo e mesa se encontram, que beleza também nasce no prato, que tudo que vem da terra pode ser cuidado — de dentro e de fora.