Tem dias que a gente acorda com o peito miúdo.

Um tipo de silêncio por dentro, como se algo tivesse faltando… mas a gente nem sabe o quê.

É sede de um negócio que não é água.

É fome de toque, de cheiro, de um tempo que cuide da gente por dentro.

Nesses dias, costumo buscar o que é simples.

Um banho demorado.

O sol batendo na nuca.

O barulho das folhas, ou o cheiro de alguma erva que mora na memória.

Hoje fui de alecrim.

Erva que tempera, também benze.

É lembrança de quintal, de avó, de cuidado sem pressa.

É planta que ergue. Que desanuvia a cabeça, que conversa com o coração sem dizer uma palavra.

Eu uso o alecrim no banho.

Faço infusão, deixo descansar, depois derramo no corpo como quem pede licença: me benze, me leva pra casa.

Porque o corpo é casa também.

E às vezes, a gente se esquece disso.

Vai empilhando cobranças, obrigações, medos e mais medos — e quando vê, não tem mais canto limpo onde sentar dentro de si.

O alecrim ajuda a varrer.

Desobstrui as frestas do peito.

Faz lembrar que existe um tipo de cuidado que não se compra pronto: aquele que a gente prepara com as mãos, que leva o nosso tempo, nosso cheiro, nossa intenção.

 

E por isso ele tá aqui, entre nossos sabonetes, nossos cremes, nossas caixas e nossos rituais.

Porque mais do que uma erva, o alecrim é um recado.

Diz: “você pode se reconstruir, mesmo nos dias em que nada parece fazer sentido”.

 

Alecrim é coragem em forma de planta.

É colo invisível.

É palavra mágica disfarçada de mato.

 

Então hoje, meu convite é esse:

Coloque um ramo na água do banho.

Respire fundo.

E escute o que o silêncio quer dizer.

 

Tem raiz.

Tem cheiro de casa.

Tem alecrim.