Tem plantas que parecem conversar com a gente.
Não sei se é pelo cheiro, pela cor ou pela maneira como se ajeitam no vaso, como quem diz “estou aqui para o que precisar”.
A sálvia é assim. Um dia, ela tempera o almoço; no outro, ajuda a acalmar a garganta inflamada.
Às vezes, só está ali para perfumar o ar e deixar a casa mais leve.
Lembro da primeira vez que vi um feixe seco de sálvia queimando. A fumaça subia devagar, dançando no ar como se procurasse cada canto para visitar. Naquele dia, percebi que essa erva não era apenas cozinha — era também ritual. Desde então, entendi que cuidar da casa e cuidar de si não são coisas separadas. Na panela, a sálvia é profunda.
Tem um sabor levemente amargo, que pede calma e respeito. Não é tempero que se joga de qualquer jeito: é folha que se coloca no momento certo, para que ela solte o perfume e se misture ao prato como quem chega e transforma o ambiente. Um pouco de manteiga derretida, duas folhas frescas e o aroma toma conta da cozinha. É quase impossível não fechar os olhos para sentir.
Na xícara, ela aquece por dentro. O chá de sálvia é remédio antigo, daqueles que a gente aprende com avó ou vizinha mais velha. Serve para acalmar a digestão, suavizar a garganta e até trazer um pouco de paz depois de dias cansativos. Uma folha, um pouco de água quente, alguns minutos de espera — e pronto.
Não é só chá, é pausa.
E quando o corpo está bem, ainda sobra força para cuidar da energia. Queimar sálvia, dizem, limpa o que não serve mais, afasta o cansaço invisível e convida coisas boas a ficarem. É simples: acende-se a ponta, deixa a fumaça caminhar pela casa, e o ar parece mudar. A luz entra diferente.
Ter um pé de sálvia no quintal ou na varanda é ter companhia. É saber que sempre haverá um aroma para temperar o feijão, um chá para a noite fria ou um ritual para um dia pesado. Ela é presença silenciosa, mas constante.
Talvez seja isso que a sálvia ensine: que o cuidado é completo quando começa no corpo e alcança o espírito. Que a mesma folha pode estar na panela, na xícara e na brisa que atravessa a casa.
E que, às vezes, o que precisamos é só de uma erva simples para lembrar que a vida também se tempera.
